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Bicicletas ganham espaço nas empresas

Expansão das ciclovias na cidade de São Paulo estimula trabalhadores a aderir ao transporte alternativo, com impacto na estrutura dos ambientes corporativos

Por Vivian Codogno
Atualização:
Bike da firma: agência distribui brindes a cada 100 quilômetros de pedaladas Foto: Divulgação

SÃO PAULO - A adesão dos paulistanos ao uso das ciclofaixas para o deslocamento diário começa a mudar a rotina das empresas. Pessoas que antes não se sentiam seguras para realizar atividades cotidianas de biclicleta, como ir ao trabalho, tomaram coragem e ocuparam o espaço destinado ao transporte sobre duas rodas, atitude que vem exigindo mudanças estruturais das empresas que recebem os novos ciclistas. Medidas como implantar bicicletários, vestiários e, em muitos casos, políticas de incentivo ao uso das bikes, deixaram de ser um diferencial e se tornaram necessárias. 

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A solicitação por mudanças, muitas vezes, vem dos próprios funcionários, como aconteceu com Missaki Idehara, coordenador de planejamento da farmacêutica Bayer. Cicloativista desde adolescente, ficou surpreso em seu primeiro dia na empresa, quando foi trabalhar de bicicleta e precisou deixá-la ao lado de fora do prédio pois, conforme explica, "o veículo não constava nas normas da empresa". 

"Precisar deixar a bicicleta trancada do lado de fora foi decisivo para mim. No mesmo dia entrei em contato com o departamento de Recursos Humanos da empresa e falei sobre o discurso cicloativista. A troca de emails chegou até o departamento de transportes e a primeira medida da empresa foi construir um bicicletário", relata Missaki. 

Desde então, a adesão ao uso da bicicleta cresceu tanto que a Bayer inaugurou, há poucos meses, uma ponte que liga a ciclofaixa da Marginal do Pinheiros à empresa, para facilitar a mobilidade de funcionários e daqueles que não utilizam carro para o deslocamento na região, no bairro Socorro. A diretora de Recursos Humanos da Bayer, Elisabete Rello, afirma que o investimento para a construção da ponte ficou em torno de R$ 5 milhões. "Pessoas que vinham ocasionalmente de bicicleta agora vêm regularmente. É uma via de mão dupla e assim fomentamos a troca de ideias na empresa", relata. 

"Não considero a bicicleta um esporte, um exercício físico, mas um meio de transporte. Pedalo todos os dias uma distâncua de 20 quilômetros de casa para o trabalho. Não podemos nos intimidar pelo caos do trãnsito", relata Missaki, que também é coordenador da organização Bike Anjo, rede de voluntários que promove passeios de bicicleta pela cidade. O ativista reforça que a implementação das ciclofaixas em São Paulo beneficia principalmente aqueles que ainda não haviam tomado a iniciativa de se locomover pedalando. "No Bike Anjo, antes tínhamos 50 pessoas por mês inscritas em nossas oficinas. Em agosto, tivemos 150. Há uma demanda reprimida que agora está começando a se arriscar." 

O advogado Rubens Vidigal Neto, sócio da empresa Perlman Vidigal Godoy Advogados, também acreditana necessidade de mudanças estruturais para receber novos ciclistas. Recentemente, aproveitou uma reforma no escritório, que conta com 23 advogados e está localizado na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, para construir dois vestiários com chuveiro e armários com cadeado.

"Como advogados, temos um dress code que torna a situação complexa. Por isso colocamos, nos vestiários, armários para deixar paletós, ternos, gravatas", explica Rubens."No fim, a reforma teve um custo adicional quase imperceptível. E a influência do uso da bicicleta está crescendo."

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Na mesma região da cidade, a sede administrativa do Banco Santander disponibiliza, desde setembro, duas bicicletas para o uso por funcionários, e tem o projeto de aumentar o bicicletário do prédio de 90 para 120 vagas. A política de incentivo ao uso das bikes inclui, ainda, ampliar o vestiário da empresa.

Conforme explica o superintendente de serviços e atendimento do grupo, Edmar Cioletti, a adesão espontânea ao deslocamento por bicicletas tem influenciado essas mudanças. "Vamos aprendendo com o tempo. Começamos com o bicicletário, mas as pessoas não usavam porque não tinha onde guardar pertences, tomar banho. Construímos o vestiário e com o tempo, estendemos os benefícios a uma sala de alongamento, ferramentas de manutenção e produtos de higiene pessoal", explica Cioletti. 

Santander ampliou capacidade do bicicletário da sede administrativa de 90 para 120 bicicletas Foto: Divulgação

Aplicativo. A opção de usar a bicicleta no dia a dia de uma agência de publicidade fez tanto sucesso que virou um projeto independente. A agênca Señores criou um aplicativo de monitoramento de pedaladas e estabeleceu metas. Quando a bicicleta monitorada chegava a certa quilometragem, os colaboradores recebiam brindes. "Queríamos fazer algo diferente dentro da nossa proposta, que envolve entretenimento e utilidade. As pessoas precisam de um incentivo a mais. Chegamos à conclusão de que poderia ser realmente um produto", explica a sócia da Señores, Fabia Barbieri.

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O projeto ganhou, em sua fase de testes, o nome de Bike da Firma. A agência disponibiliza uma bicicleta dobrável e elétrica para as empresas participantes. Quando a meta de 100 quilômetros de pedaladas é atingida, os funcionários que aderiram recebem brindes como vale-livros e happy hours. Para as empresas, de acordo com Fabia, há uma economia em vale-transportes, deslocamentos por meio de taxi e estacionamentos pagos.

"A cidade realmente ainda não está preparada para receber ciclistas, mas não é tão difícil quanto parece. Com a implementação das últimas ciclofaixas na região central, a procura pela fase de testes do aplicativo teve uma alta muito grande. Tanto que precisamos barrar as empresas que participariam desta etapa do projeto", lamenta Fabia. A partir de janeiro de 2015, o projeto vira um serviço independente, adquirido por meio de assinaturas.

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