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Após prometer oposição incansável, Aécio se mantém distante do Congresso

Senador não compareceu à Casa nesta semana em meio ao ápice do escândalo da Petrobrás; das 11 sessões plenárias após o 2º turno, tucano só apareceu em cinco

Por Ricardo Brito e Isadora Peron
Atualização:

Brasília - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) anunciou que faria uma "oposição incansável" ao governo federal depois que perdeu a corrida presidencial, mas desde o fim das eleições não tem sido um parlamentar assíduo no Congresso. O tucano não compareceu às sessões do Senado esta semana, no momento em que o escândalo de corrupção da Petrobrás atingiu o seu ápice, com a prisão de dirigentes das principais empreiteiras do País e em que a base aliada tenta aprovar um projeto que, na prática, faz o governo abandonar o cumprimento da meta fiscal em 2014.

Aécio Neves foi derrotado em acirrada disputa com Dilma Rousseff Foto: Marcos de Paula/Estadão

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Levantamento feito pelo Broadcast no Diário do Senado e no registro de presença da Casa apontou que, nas 11 sessões de votação em plenário desde o segundo turno, Aécio só compareceu a cinco delas. Segundo a assessoria de imprensa do tucano, ele tirou esta semana para descansar, já que havia voltado ao Congresso depois de meses de campanha eleitoral. Aécio também havia ficado fora do Senado na semana imediatamente após o segundo turno.

Depois de ser derrotado pela presidente Dilma Rousseff, o tucano retornou ao Senado no dia 4 de novembro. Na ocasião, foi recebido com festa e aclamado como líder inconteste da oposição. No primeiro discurso que fez na tribuna da Casa, um dia depois, o ex-presidenciável afirmou que iria fazer uma oposição "incansável" e "intransigente" ao governo.

"Faremos uma oposição incansável, inquebrantável e intransigente na defesa dos interesses dos brasileiros. Vamos fiscalizar, cobrar, denunciar", prometeu. Ele condicionou ainda qualquer "diálogo" com a presidente ao aprofundamento das investigações do que chamou de "petrolão".

Esta semana, contudo, Aécio não esteve no Senado, mesmo com forte agenda legislativa. Na terça-feira, depois de sucessivas derrotas, os oposicionistas, com o apoio de integrantes da base de Dilma, conseguiram avançar nos trabalhos da CPI mista da Petrobrás e aprovar, entre outros requerimentos, a quebra do sigilo fiscal e bancário do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que foi apontado como o "operador" do suposto esquema de recolhimento de propina investigado pela Polícia Federal.

Nesta quarta, após a pressão dos líderes dos partidos da oposição, o governo teve uma nova derrota e teve de reabrir a discussão do projeto que elimina a meta de superávit primário na Comissão Mista de Orçamento (CMO). A sessão foi encerrada sem que o projeto fosse votado.

O líder do PSDB no Senado e vice de Aécio na corrida presidencial, Aloysio Nunes Ferreira (SP), saiu em defesa do tucano ao dizer que ele fez "muito bem" em descansar esta semana. "As pessoas têm limite físico", disse. Segundo ele, Aécio decidiu ficar um tempo com a família, já que desde que os filhos dele nasceram, em plena campanha, não houve muito tempo para isso.

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Aloysio argumentou que, mesmo sem a presença de Aécio no Congresso, o ex-presidenciável tem articulado as ações do PSDB nas discussões da CPI mista da Petrobrás e da flexibilização da meta de superávit primário. Segundo o líder tucano ele recebe, todos os dias, até cinco e-mails e telefonemas de Aécio com orientações de atuação. "Ele continua muito ligado", disse.

O líder tucano citou ainda que, além da atuação no Congresso, Aécio é presidente do PSDB e tem de organizar o partido, o que o faz ter uma atuação importante também fora de Brasília. Ele lembrou que, pelo regimento interno do Senado, presidentes de partidos têm a prerrogativa de se ausentarem da Casa para participar de compromissos partidários. Essa é uma das poucas exceções que, nos casos de ausência dos parlamentares, o Senado abona as faltas.

Para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o partido está seguindo a orientação dada por Aécio e defendeu a atuação à distância do tucano. "Ele não pode ter uma atividade como nós temos no Senado, tem que ter uma atividade diferenciada. Ele não vai aparecer discutindo qualquer matéria, porque, agora, ele fala para o Brasil", completou ele, lembrando dos 51 milhões de votos do ex-presidenciável.

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Já a senadora Ana Rita (PT-ES) criticou a postura do tucano. Apesar de dizer que entende a necessidade de Aécio descansar após a campanha, a petista classificou o mineiro como um "senador extremamente ausente" durante todo o seu mandato parlamentar. "Mas eu não vou ficar fiscalizando os colegas. Esse papel cabe ao partido e aos eleitores dele", disse.

Na semana passada, ao ser questionado pelo Broadcast Político se cogitava fazer parte da nova CPI da Petrobrás que a oposição pretende instalar no ano que vem, Aécio indicou que vai manter uma atuação mais nos bastidores do que no dia a dia do Congresso. "Eu acho que o meu papel não é ficar lá sentado na CPI o dia inteiro, mas cobrar que ela apresente resultados", reconheceu.

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