Lentidão na Marginal sobe 80% após 5 anos

Depois de ampliação, trânsito no horário de pico da tarde passou de 19,8 quilômetros, em média, para 35,7 quilômetros

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Por Caio do Valle
Atualização:

A expansão da Marginal do Tietê, que completou nesta sexta-feira, 27, cinco anos deixou de surtir efeitos no trânsito da cidade. Dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) indicam que, de 2010 para cá, na hora do rush da volta para casa, a lentidão média em dias úteis subiu até 80% na via. 

Segundo as estatísticas oficiais, no ano de abertura da pista central da via expressa, em 2010, os engarrafamentos na Marginal do Tietê, durante o horário de pico da tarde, chegavam a 19,8 km, em média. No ano passado, esse patamar passou para 35,7 km. Na hora do rush matinal a piora foi menor, passando de 15,5 km para 16,6 km no mesmo período.

Nova Marginal, como foi chamada pela Dersa, custou R$ 1,5 bilhão Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

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Os dados revelam também que, nos três primeiros anos de existência dos 26 km de pista central, houve uma redução do volume de congestionamentos na via, em especial no horário de pico da manhã. Entre 2010 e 2012, a lentidão média nessa faixa horária caiu de 15,5 km para 13,7 km. No ano seguinte, esse número ficou estável, mas subiu para 16,6 km em 2014. Um nível maior do que o do ano de estreia da expansão da via.

Na cidade, o trânsito também piorou. No ano passado, a capital registrava 141 km de lentidão no pico da tarde, 22% a mais que os 115 km de 2010. A “Nova Marginal” começou a ser entregue em 27 de março daquele ano pelo então governador José Serra (PSDB). No ano anterior, quando anunciou o projeto, o tucano afirmou: “Pode anotar. Não vai ter mais engarrafamento aqui”. 

A empresa responsável pela obra, a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), que é controlada pelo governo do Estado, informou que a “Nova Marginal” custou R$ 1,5 bilhão. O valor é um quarto dos R$ 5,5 bilhões necessários para construir a Linha 15-Prata do Metrô, um monotrilho que também terá 26 km de extensão, na zona leste.

A explicação oficial e a de quem estuda o assunto é a mesma: a criação de grandes avenidas estruturais tende a atrair mais carros para elas, fazendo seus efeitos serem mitigados rapidamente.

Saturação. “Pelo que foi gasto no projeto, (a obra) tinha de ter uma vida útil mais longa”, afirma o consultor de Trânsito e Transportes Alexandre zum Winkel. Para ele, a obra foi “necessária”. Já Horácio Augusto Figueira, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), diz que “era previsível” a rápida perda de eficiência do projeto, pois a tendência era de que veículos em outras vias saturadas, como a Radial Leste, migrassem para lá. Ele lembra que nem ações restritivas que passaram a valer na Marginal, como a que proíbe caminhões nos horários de pico, foram suficientes para garantir a fluidez.

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“Foi uma obra inútil e, enquanto insistirmos na locomoção por transporte individual, a mobilidade não vai melhorar. Foi dinheiro jogado fora”, afirma Figueira.

O motorista Elenilton Amorim, de 32 anos, que enfrenta diariamente a Marginal do Tietê, reclama da via. “No começo até melhorou, mas agora está caótico.” Já o vendedor Eduardo Boer, de 51 anos, critica o aumento de carros na cidade. “Foram sucessivos incentivos à compra de automóveis.”

Entre 2010 e 2014, a frota de carros cresceu 10% em São Paulo, chegando a 5,6 milhões, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

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